O que é?
A transferência de nervos foi uma inovação de técnica cirúrgica que mudou completamente o panorama das cirurgias dos nervos, permitindo tratar várias condições vistas antes como intratáveis ou mesmo trazendo melhores resultados para diversas lesões de nervos.
Como um nervo funciona?
Um nervo é um conjunto de neurônios, células muito especializadas do nosso corpo que se tornaram especialistas em levar informações. Eles levam informações para serem processados em nosso cérebro captando informações dos nossos sentidos, tato, paladar, olfato, visão e audição, e transmitindo até o cérebro diretamente ou através da medula. Eles também levam os comandos do cérebro até nossos músculos e outras partes do nosso corpo, permitindo e comandando nossos movimentos e coordena a atividade de diversos órgãos como intestino, coração e pulmões.
O problema das lesões de nervosas
Um nervo pode ser comparado como a raiz de uma árvore. Quando você machuca a raiz de uma árvore próximo ao caule, da região onde a raiz foi machucada para baixo ela morre e da ponta machucada cresce uma nova raiz. Da mesma forma, quando um nervo que controla algum músculo é severamente lesionada, da região aonde ocorreu o machucado até o músculo o nervo morre, ou melhor, sofre um tipo de degeneração chamado de degeneração walleriana. Da ponta saudável do nervo começa a regenerar, crescendo novamente em direção ao músculo. Isso só pode ocorrer se a “capa” externa do nervo, que funciona como se fosse a capa de um fio, ainda estiver inteira. Se o nervo estiver completamente partido o nervo ainda tentará regenerar mas não conseguirá encontrar o seu músculo alvo.
O grande problema é que o nervo cresce bem devagar, cerca de 1mm por dia. Assim, um nervo que controla os músculos da mão e que foi machucado próximo do pescoço tem um looooongo caminho até alcançar os músculos da mão novamente.
Dai o problema. O músculo depende do nervo para se manter. Sem um nervo o músculo começa a atrofia , perdendo fibras musculares. Com o tempo, mesmo as fibras que sobram vão passando por um processo que chamamos de transformação gordurosa, perdendo toda sua estrutura de célula muscular. Dessa forma, ocorre uma corrida contra o tempo. Enquanto o nervo está regenerando em sentido ao músculo, esse vai morrendo aos poucos. E a partir de um certo tempo, mesmo que o nervo alcance o nervo, pode já não ter sobrado muito do músculo para ele reinervar.
O problema das reconstruções nervosas
O problema acima nos mostra o grande problema de realizar a reconstrução de algumas lesões de nervos. Mesmo que uma lesão seja reparada por via de enxerto ou não, a distância pode ser muito grande para que o nervo atinja o músculo novamente e o músculo pode atrofiar severamente no processo.
A solução da transferência nervosa
A grande solução técnica para muitas lesões de nervo advém da transferência nervosa. O problema entre o tempo e a distância entre o nervo e o músculo é resolvido com essa técnica.
Basicamente o que se faz em uma transferência nervosa é pegar um nervo bom e saudável do paciente, que tenha redundância, ou seja, que haja mais de um que faça a mesma função e, sorte nossa que costumamos ter diversos nervos e músculos que fazem a mesma função em nosso corpo, e reconectar ele no músculo que foi desnervado. Esse nervo bom e saudável deve estar próximo do músculo desnervado. Assim, ao colocar um nervo novo muito próximo ao músculo desnervado se resolve o problema da distância. O nervo crescerá em direção músculo desnervado, agora por uma pequena distância e o músculo sofrerá menos o efeito da desnervação.
Alguns tratamentos em que se usa a transferência nervosas
Lesão plexo braquial
As transferências nervosas mudaram o tratamento das lesões de plexo braquial. Visto que boa parte das lesões do plexo braquial se dão logo na saída dos nervos da medula, a distâncias até os músculos do braço, antebraço e mão eram muito longas. Assim, mesmo que as raízes lesionadas fossem completamente reconstruídas cirurgicamente, infelizmente poucos paciente recuperavam um movimento descente pois a distância até esses músculos eram tão longa que muito dos músculos do braço eram severamente atrofiados no processo.
Com as transferências nervosas é possível pegar nervos próximos dos músculos e reinervá-los com muito mais eficiência. Pessoas com lesões de plexo braquial que mantém os movimentos da mão pode ter diversos nervos reaproveitados para recuperar a flexão e extensão do do cotovelo e os movimentos do ombro.
Além disso, nas lesões graves como naquelas em que há avulsão do plexo braquial, é possível pegar nervos mais distantes para reinervar o braço como o nervo frênico da respiração, os nervos intercostais e o nervo acessório, entre outros.
Tetrahand
Em paciente com quadro de tetraplegia por lesão medular alta, muitas vezes a maior parte dos movimentos dos braços encontra-se paralisada.
É possível realizar transferências de nervos acima do nível da medula machucada para recuperar alguns dos movimentos perdidos abaixo do nível de lesão da medula.
Os principais transferências nervosas visam recuperar a extensão de cotovelo e os movimentos de dedos, tanto de abrir como para fechar, para recuperar a capacidade do paciente de manipular objetos.
Lesões traumáticas dos nervos
Quando nervos importantes, como o nervo mediano e ulnar, que são responsáveis pelos movimentos da mão são machucados muito próximo do pescoço, a reconstrução desses pode ser um problema visto que distância que o nervo precisa vencer para chegar ao músculo é grande. Nesses casos há diversas transferências nervosas possíveis para restaurar as lesões, dependendo muito da altura da lesão e do estado dos demais nervos.
O mais importantes
A transferência nervosa mudou completamente as cirurgias de nervo, permitindo restaurar movimentos e sensibilidade antes impensáveis, sendo uma ferramenta de extrema utilidade no repertório da cirurgia de nervo para restaurar uma função perdida.
Se você tem uma lesão de nervo e perdeu algum movimento ou sensibilidade, entre em contato.
