O que é o Plexo Braquial
O plexo braquial é o conjunto de nervos que saem da medula na altura do pescoço, mais precisamente entre a quinta vértebra do pescoço (C5) até a primeira vértebra do tórax(T1). Chamamos de plexo pois esses nervos eles se fundem uns com os outros e se separam diversas vezes no pescoço, formando um emaranhado(plexo= entrelaçado em grego) nervoso. Esse conjunto de nervos são responsáveis por toda movimentação e sensibilidade do nosso membro superior, ou seja, do ombro até a ponta dos dedos.
As lesões do Plexo Braquial
As lesões do plexo braquial são uma condição devastadora pois podem acarretar perda de força e de sensibilidade em todo ou parte do membro além de poder causar uma dor importante devido aos danos nos nervos e na medula espinhal.
As lesões podem ser desde lesões parciais, onde apenas parte dos nervos são lesados , geralmente levando a paralisia dos movimentos do ombro e cotovelo ou ,mais raramente, da mão.Podem também serem uma lesão total, onde há paralisia completa do braço e perda total das sensações no mesmo.
A extensão dos danos nos nervos podem variar bastante: o nervo pode ser cortado, estirado, arrebentado em algum ponto ao longo do seu trajeto ou mesmo arrancado da medula
Uma pessoa pode sofrer uma lesão no plexo braquial de diversas formas: Desde de lesões traumáticas por armas como facas e armas de fogo na região pescoço ou mesmo por pancadas fortes contra a região do pescoço, como por exemplo por quedas de telhados, escadas ou quando algo pesado cai sobre essa região, por exemplo durante uma poda de uma árvore.
No Brasil, a principal causa de lesão no plexo braquial, de longe, são as quedas de motocicleta. Durante a queda o motoqueiro pode colidir a região fortemente contra algum anteparo ou mesmo contra o chão. Muitas vezes o pescoço é jogado para um lado e o braço para o lado oposto, tracionado os nervos para fora da medula. Muitos pessoas relatam que chegam a sentir imediatamente após a queda que algo “desligou “ no braço, perdendo a capacidade de movimenta-lo ou sentil-lo.
O tratamento
A perda parcial ou total de mover o braço é devastador para vítima, a grande maioria delas, homens jovens na fase mais produtiva da vida.
As lesões do plexo braquial são cercadas de desinformação, principalmente de profissionais da área da saúde. Não é incomum os paciente relatarem que passaram na mão de diversos profissionais e que fora dito que “Não tem nada a ser feito, vai ter que aprender a aceitar mesmo!”. Uma lástima.
A verdade é que durante muito tempo realmente havia muito pouco o que pudesse ser feito para recobrar os movimentos e a sensibilidade nas lesões de plexo braquial mas isso mudou drasticamente na última década.
O tratamento consiste em algumas possibilidades.
1-Reconstrução:
O cirurgião explora a região do pescoço para avaliar o plexo braquial e ver se é possível reconstruir os nervos lesados , ou seja, se é possível religa-lós. Se a lesão se deu nos nervos na altura do pescoço, principalmente as 3 primeiras raizes do plexo, C5,C6 E C7, as vezes é possível reconstruílo, retirando as cicatrizes e imendando os nervos danificados. Muitas vezes para realizar esse remendo é necessário retirar um enxerto de nervo de algum outro nervo do corpo. Na maior parte das vezes esse enxerto vem do nervo sural, um nervo da perna responsável pela sensibilidade de uma pequena parte do pé. Vale a pena lembrar que quando o nervo é arranjado da medula, nos casos que chamamos de avulsão, não é possível religa-los a medula novamente, sendo necessário fazer uso de outras estratégias de tratamento.
2-Transferência nervosa:
Nesse caso, o que se faz é basicamente um “gato” onde o cirurgião vai usar um nervo bom do paciente e ligar em um dos músculos cujo nervo foi danificado. Nas lesões parciais onde o paciente preserva os movimentos da mão, há diversos nervos que podem ser aproveitados para recobrar os movimentos do cotovelo e do ombro, por exemplo. Algumas vezes pode usar nervos que não são do braço como o nervo da respiração(Frênico) ou das costelas(intercostais). Cada caso deve ser severamente avaliado para ver quais as opções disponíveis.
3-Transferências miotendinosas:
Infelizmente muitos pacientes não conseguem realizar o tratamento cirúrgico no primeiro ano após a lesão ou, muitos que fizeram recobram apenas parte dos movimentos . Após 1 ano a reconstrução dos nervos e as transferências nervosas não são mais uma opção. Nesses casos, pode-se optar por uma transferência miotendinea . Basicamente o que se faz é pegar um músculo bom do paciente, que apresenta uma boa força e que que esteja nas redondezas do movimento que se quer ganhar, e mudá-lo de local para fazer um novo movimento. Perceba que ao mudar um músculo de local, ele deixa de fazer o que fazia antes para fazer um novo movimento. Felizmente, temos diversos músculos do corpo que fazem o mesmo movimento de modo que se sacrificarmos 1 ainda há outro que faz a mesma coisa . Sendo assim, pode ser uma alternativa em paciente com mais de 1 ano de lesão ou que já fizeram a cirurgia mas não recuperaram algum movimento.
4-Transplante de músculo:
Muitos paciente não conseguem realizar a cirurgia de plexo braquial no primeiro ano ou mesmo não apresentam músculos viáveis para uma transferência miotendinosa. Nesses casos, uma alternativa é a transplante de músculos. Nesse caso, pega-se um músculo usualmente da perna, o músculo Grácil, um entre diversos outros que fazem o movimento de fechar a perna, e transplanta-se ele para um novo local para que esse passe a realizar o movimento perdido. Nas lesões de plexo braquial, por exemplo, ele pode ser usado para recobrar a capacidade de dobrar o cotovelo ou mesmo dobrar os dedos.
!!!A urgência!!!
Uma vez instalada a lesão de plexo, inicia-se uma corrida contra o tempo onde , como costumo dizer, “tempo é músculo! ou melhor, tempo é movimento!”. Os músculos inervados pelo plexo braquial lesionado não sobrevivem com o nervo lesionado, evoluindo com uma atrofia progressiva.
A partir de certo ponto, usualmente 1 ano, a atrofia pode estar tão avançada que não há músculo mais para ser salvo. É por isso que qualquer um com suspeita de lesão de nervo deve procurar um especialista adequado , preferencialmente um cirurgião de nervos, para que possa ser diagnosticado o quanto antes e tratar o mais cedo possível. Tempo é movimento e quanto antes, melhor.
A importância da reabilitação
A reabilitação é essencial em todas as etapas do tratamento. Alguns pacientes com lesões de menor gravidade podem recuperar os movimentos com atividades fisioterápicas. Infelizmente a grande maioria , especialmente com lesões mais graves não terão nenhuma melhora sem tratamento cirúrgico. Ainda sim, a reabilitação é essencial. Antes da cirurgia ela é crucial para manter a boa saúde das articulações além de ajudar no manejo das dores. Após o tratamento cirúrgico é fundamental para o aprendizado dos movimentos e para saúde geral do membro. Mas a reabilitação é peça fundamental , sobretudo, para restituir o indivíduo para o indivíduo, por meio das diversas estratégias de aprendizado e adaptação, a retornar a vida em sociedade e para suas tarefas de vida diária como trabalho, esporte , lazer ou vida doméstica.
O mais importante
É importante lembrar que as lesões de plexo são lesões complexas, que nenhum paciente tem uma lesão igual ao outro e que apenas um profissional qualificado é capaz de avaliar a extensão da lesão e a melhor estratégia de tratamento para cada indivíduo. O Objetivo é mais que recobrar os movimentos e a sensibilidade perdida: é recobrar a autonomia, a independência, a autoestima e a capacidade de realização do paciente.
Lesão do Plexo Braquial em Recém-Nascidos
Além de ocorrer em adultos, a lesão do plexo braquial também pode acontecer em recém-nascidos, geralmente durante o parto. Essa condição é chamada de paralisia obstétrica do plexo braquial.
Ela ocorre quando há um estiramento excessivo dos nervos do plexo braquial durante o nascimento — especialmente em partos difíceis, com bebês grandes (macrossômicos), uso de fórceps ou distócia de ombro (quando o ombro do bebê fica preso no canal de parto).
Logo após o nascimento, os sinais costumam ser notados: o bebê pode não mover um dos bracinhos ou apresentar movimentos assimétricos, além de postura característica do braço afetado.
O diagnóstico é feito através da avaliação clínica especializada, e em alguns casos, exames complementares são indicados para entender o grau da lesão.
O tratamento costuma começar com fisioterapia precoce e acompanhamento contínuo. A boa notícia é que a maioria dos casos tem boa recuperação, especialmente quando identificados e tratados nos primeiros meses de vida. Em situações mais graves, a cirurgia pode ser indicada.
Se você tem dúvidas ou percebeu algum sinal em seu bebê, é importante procurar um médico especialista o quanto antes para uma avaliação adequada e cuidadosa.